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A tecnologia do Kata 型

Atualizado: 26 de set. de 2023

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Por mais iniciante que seja, não há um paraticante de karatê que não tenha escutado esta pequena palavra de quatro letras ou que não tenha assistido, pelo menos, à execução de um kata. Aos olhos despreparados este tipo de prática pode parecer uma mera dança, um componente estético. Para o karatê tradicional de Okinawa (não esportivo) o kata tem um significado profundo, portanto é muito mais do que uma simples coreografia.


Nas palavras de Morio Higaonna Sensei o kata é uma manifestação concreta de técnicas[1]. No entendimento de Higaonna Sensei, os katas cristalizam a essência do Karatê. Por sua vez, Seikichi Toguchi Sensei destaca que os objetivos do kata são a prática do budo e o condicionamento físico[2].



Para tentar entender melhor o que esses grandes mestres nos ensinam sobre o que são os katas, sugiro que façamos uma viagem pelo tempo.


Atualmente a tecnologia da informação traz avanços inimagináveis para as nossas vidas. Graças a processadores poderosíssimos, elevada capacidade de armazenamento de dados, algoritmos avançados e a internet, modificamos muito o modo como vivemos ao longo das últimas duas décadas.


Nos dias de hoje nos comunicamos em tempo real em um trânsito de informação jamais visto neste mundo! Algo que tem impactado e impactará cada vez mais nossas vidas, incluindo-se aí o Karatê! Mas o que tudo isso tem a ver com Kata? Pois então, tente imaginar estudiosos da arte de lutar vivendo em tempos muito remotos nos confins da Índia e da China. Naquele período a humanidade estava muito, mas muito distante do avanço tecnológico da atualidade no que diz respeito a transferência de informação. Claro, naqueles tempos pessoas (ou ‘estados’) interessadas nas ‘artes das lutas’ teriam por objetivo buscar meios para se defender de uma ameaça ou atacar adversários. Naquele contexto, a sabedoria sobre lutas poderia render até mesmo destacado status na sociedade lá no passado!


Agora imagine aquelas pessoas desenvolvendo os seus sistemas de lutas. Como deveria ser importante manter o segredo sobre as técnicas para que inimigos não descobrissem formas de neutralizar suas defesas ou ataques quando de um confronto.

Os estudiosos das ‘artes das lutas’ do passado teriam desenvolvido suas técnicas de luta através do estudo do Kumitê (‘luta’) 組手 [2]. Assim, partindo do combate homem a homem os primeiros mestres foram coletando inúmeras técnicas de kumitê. Com o desenvolvimento contínuo dos sistemas (escolas) de combates foram-se criando enormes coleções dessas técnicas.


Com o passar do tempo (séculos!) isto começou a dificultar o treino. Imagine você o grande esforço que se deveria empenhar para se lembrar das infindáveis técnicas. Uma outra desvantagem era a de que o treino de kumitê requeria (e ainda requer!) a presença de um parceiro de treino (por óbvio!), o que nem sempre estaria (está) disponível…


Desenvolvem-se os katas!

Através da tentativa e erro foi se criando um sistema coreografado de treino que permitia ao praticante lembrar das diversas técnicas utilizadas nos kumitê[2]. É isto mesmo! Na inexistência de câmeras filmadoras e grandes bancos de dados os primeiros mestres criaram uma forma genialmente fantástica de compactação, armazenamento e transferência de infomação e que ainda permitia a prática a sós, os katas! Lembra-se de que tratamos anteriormente sobre a necessidade de segredo no ensinamento das técnicas?

Pois então!

O kata também permitiu que técnicas avançadas fossem modificadas em outros movimentos ocultando dos olhos de observadores (espiões) aquelas mais importantes. Podemos notar que para além de se parecerem com uma dança coreografada os katas são como “livros” onde ficaram registrados conhecimentos importantes vindos do passado. No Karatê estão registrados nos katas tradicionais uma ampla variedade de técnicas de kumitê.


Os katas tradicionais são ainda praticados pelos grandes mestres de Okinawa e neles estão resguardados segredos ancestrais de combate. Assim, os kata do karatê de Okinawa podem ser considerados patrimônios de uma cultura ancestral. Neste sentido, somente a prática do karatê tradicional das escolas (Ryus) originárias de Okinawa pode propiciar ao praticante a possibilidade de se conhecer a essência das técnicas do Karatê através dos Kata.


É importante atentar ao fato de que os katas se originaram de técnicas de luta e são um meio de se exercitar tais técnicas. Compreender as origens e funções dos katas é fundamental para que se consiga compreender a relação entre kumite e kata[3]. A lacuna entre o kata e o kumite leva a uma compreensão incorreta sobre o karatê[3].


"Assim como livros para estudantes e

exercícios táticos para soldados, os kata são os elementos

mais importante do karatê.” Gichin Funakoshi (Tradução livre) Referências: 1- Hiagaonna M. 1985. Traditional Karate-DO - Okinawa Goju Ryu Vol. 1 Fundamental Techniques. Sugawara Martial Arts Institute 169 p.

2- Toguchi S. 2001. Okinawan Goju-Ryu II: Advanced Techiniques of Shorei-Kan Karate. Ohara Publications 173p.

3- Kaisai No Genri: le tecniche segrete del Kata. Associazione Sportiva Dilettantistica https://www.hombu-dojo.it/contatti.html (assecado em jun. 2023).





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